sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Histórias que fazem pensar - 1

Os queques ou os desmandos dos que vivem mandados (retirado do livro "Do outro lado da escola" de Ana Benavente, António Firmmino da Costa, Fernando Machado e Manuela Castro Neves) é uma história que me faz pensar sobre a Educação para a Saúde e as propostas que as escolas fazem aos Encarregados de Educação no âmbito da Alimentação.
Se a alimentação é um prioridade das acções da escola, que reconhece tanto em alunos como encarregados de educação, hábitos de vida desajustados, como conciliar esta lógica materna e esta vivência das crianças que encontramos neste testemunho que partilho, com um convite, trazido por um destes três irmãos, para naquele mesmo dia ou no seguinte, a mãe ir à escola, ao fim do dia, a uma palestra sobre "Alimentação Equilibrada"?

Texto retirado do livro "Do outro lado da escola"
São três irmãozitos loiros: o António Manuel, a Alice e o Rubn. Brincam com um amigo no pátio da casa. É o fim da tarde, seis horas, e já começa a escurecer.
Aproximamo-nos, procuramos entrar um pouco no jogo, perceber como é, partilhar dos entusiasmos, inteirarmo-nos das regras.
De repente correm ao portão, interrompe-se a brincadeira. É a mãe que chega. Traz um ar cansado e alguns sacos. Um beijo a cada um, algumas reprimendas que a gente não entende, perguntas sobre a escola e sobre a creche, uma boa tarde à vizinha. Na mão, entre outras coisas, um saco cheio de queques -uma dúzia - explica depois, que a sehora onde trabalha lhe oferecera.
Convida-nos a entrar poisa tudo o que carrega consigo e, rapidamente, começa a descacar batatas para o jantar. «Isto não se pára todo o santo dia!».
Eles, os irmãozinhos loiros, desistiram completamente do jogo do berlinde. Juntam-se os três à volta do saco dos queques, miram, remiram, olham uns para os outros e perguntam já a desatar o nó:
«Podemos comê-los todos?»
Ela encolhe os ombros e, quando se volta, já rápidos nas contas de dividir, cada um tem à sua volta quatro queques que devora de seguida...
A única frase que ouvimos a mãe pronunciar, conformada, é que, daqui a bocado, se calhar, a sopa já não a querem mas que «quem não come por já ter comido não tem doença de perigo».
Eles reglados nem a ouvem. Dizem uns para os outros: «Munta bom, não é?»
E vão deixando cair migalhas para o chão.
O cãozito, esse, abana o rabo...

Sem comentários:

Enviar um comentário